Aula 03 - O Canto dos Terreiros - Profª Juliana Ribeiro




A Contribuição do Canto dos Terreiros para a Música Afrobrasileira

Profª Juliana Ribeiro
http://www.julianaribeirocanta.com/






Gêneros, rítmos, danças - Referências e Influências
Lundu

Lundu século XVIII e XIX- inaugura as danças de roda no Brasil. Tem como características o escárnio e o duplo sentido nas letras. É uma manifestação afro-brasileira, com influência do fandango espanhol . Gravura de Rugendas não datada.
Batuque
Batuque- Nos registros de visitantes, explorados e policiais do século XIX, esta palavra tanto nomeia ritmo,rito religioso, quanto as práticas lúdicas de origem africana. Acontecia nas senzalas, terreiros, mas também nas ruas, sendo tocado com atabaques, pandeiros berimbaus, além de coro e palmas. Era comum dentro da roda o surgimento  do jogo de capoeira vinda de Angola, pela similaridade dessas expressões.   Figura de Rugendas não datada.
Maxixe
O Maxixe misturava da polca o enlaçamento dos casais e o ritmo efusivo, e do lundu o escárnio e o duplo sentido em suas letras, aliados aos manejos corporais que colocavam umbigo com umbigo girando em passos vibrantes pelos salões no século XX.
Chiquinha Gonzaga
Maestrina Chiquinha Gonzaga , compositora e grande defensora dos ritmos nacionais no século XIX. Dava aula para as moças da sociedade,  e incluía o Maxixe com o  pseudônimo de  “Tango-brasileiro” em suas partituras , para que pudesse ser aceito nas casas abastadas.

Samba-de-Roda
Roda-de-Samba



 











Isto é Bom – Lundu
Xisto Bahia -1880 
Gravação Original
  
O inverno é rigoroso
Já dizia minha avó
Quem dorme junto tem frio
Quanto mais quem dorme só
Isto é bom, isto é bom, isto é bom que dói,
Isto é bom, isto é bom, isto é bom que dói
Se eu brigar com meus amores
Não se intrometa ninguém
Que acabando-se os arrufos, ou eu vou ou ela vem
REFRÃO
Quem vê mulata bonita,
bater no chão com o pezinho
Quem vê mulata bonita,
bater no chão com o pezinho
No sapateado ao meio
Mata o meu coraçãozinho
REFRÃO
Ai dói, dói, dói, as cadeiras me dói, dói dói.
Minha mulata bonita
Vamos ao mundo girar
Vamos ver a nossa sorte
Que Deus tem para nos dar
REFRÃO
Minha mulata bonita
Quem te deu tamanha sorte
Foi o soldado de Minas
Ou do Rio Grande do Norte
REFRÃO
Minha viola de pinho
Eu mesmo fui o pinheiro
Quem quiser ter coisa boa
Não tem amor ao dinheiro
REFRÃO
Ai dói, dói , dói, as cadeiras me dói, dói, dói.


O Teu Gramophone é Bão
Roque Vieira- Maxixe


Moreninha o teu gramophone
É tão bão que inté faiz chorá
Saculejo de leve ó pequena
Que é capaz da corda quebrá

Eu queria passá uma noite
A ouvi o gramophone tocá
Nunca vi gramophone tão bão
Pra gemê, soluçá e cantá

(estribilho)

Vem, vem, vem
Vem comigo, vem dansá
Traga o gramophone
Prá nois dois,
Nóis dois gozá, ui, ai!

Vem, vem, vem,
Vem comigo vem dansá
Quero ver de perto
Ele funcioná

Si você moreninha m'o desse
Ai! meu bem que feliz eu seria
Eu de noite passava tocando
E contigo dansava de dia

O teu gramophone creolinha
Nunca vi estou pra ver um assim
Quando elle pará finarmente
Minha vida acha o seu fim



Pelo Telephone
Donga e Mauro de Almeida -1916


O chefe da folia,
Pelo telefone,
Mandou me avisar

Que com alegria
Não se questione
Para se brincar!

Ai, ai, ai!
Deixa as mágoas para trás,
Ó rapaz!
Ai, ai, ai, ai!
Fica triste se és capaz
E verás!

Tomara que tu apanhes!
Não tornes a fazer isso,
Tirar amores dos outros
Depois fazer teu feitiço!

Olha, a rolinha
(Sinhô! Sinhô!)
Se embaraçou
Caiu no laço
Do nosso amor

Porque este samba
É de arrepiar
Põe perna bamba
Mas faz gozar!

O chefe da polícia,
Pelo telefone,
Manda me avisar

Que, na Carioca,
Tem uma roleta
Para se jogar!
(bis)

Ai, ai, ai!... Tomara que tu apanhes...

Olha a rolinha
(Sinhô! Sinhô!)
Se embaraçou
É que a vizinha
Nunca sambou
Porque este samba
É de arrepiar
Põe perna bamba
Mas faz gozar!



Conversa de Botequim
Noel Rosa e Vadico -1933



Seu Garçom faça o favor de me trazer depressa

Uma boa média que não seja requentada

Um pão bem quente com manteiga a beça

Um guardanapo e um copo d`água bem gelado



Fecha a porta da direita com muito cuidado

Que eu não estou disposto a ficar exposto ao Sol

Vá perguntar ao seu freguês do lado

Qual foi o resultado do futebol



Se você ficar limpando a mesa

Não me levanto nem pago a despesa

Vá pedir ao seu patrão

Uma caneta, um tinteiro, um envelope e um cartão



Não se esqueça de me dar palitos

E um cigarro pra espantar mosquitos

Vá dizer ao charuteiro

Que me empreste umas revistas, um isqueiro e um cinzeiro



Estribilho



Telefone ao menos uma vez

Para três, quatro, quatro, três, três, três

E ordene ao seu Osório

Que me mande um guarda-chuva aqui pro nosso escritório



Seu garçom me empreste algum dinheiro

Que eu deixei o meu com o bicheiro

Vá dizer ao seu gerente

Que pendure esta despesa no cabide ali em frente



Estribilho

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LAMENTO NEGRO (fragmento)


Eu sinto em minhas veias o grito dos cafezais.
Enxergo em minhas mãos a sombra dos meus irmãos
vergastados pelo chicote dos senhores da terra.

Aqueles que carregam o Brasil nas costas
não têm túmulos nem legendas;
seu sono não é velado,
seu nome ninguém conhece.

Hoje eles seguem a sina de uma sorte inglória...


(Prof. Eduardo de Oliveira)